Como já tenho escrito, hoje em dia os nomes modernos são tendencialmente curtos, internacionais, ritmados e associados à natureza.
Concha preenche pelo menos dois destes requisitos na perfeição.
Começou por ser um diminutivo usado pelos espanhóis para o nome Concépcion, que equivale em português a Conceição. Inevitavelmente, associamo-lo ao substantivo concha, que nos leva até ao mar (pelo que não se recomenda a quem tiver o apelido Vieira) e, mais figurativamente, aos peregrinos, por exemplo, dos Caminhos de Santiago (a concha é ainda um dos símbolos escolhidos pelo Papa Bento XVI para o seu brasão).
Acho que Concha se integra bem juntamente com nomes como Íris, Flor, Flora, Luz, Clara, Mar, Sol, Yasmin, mas peca pela pouca popularidade, que faz com que possa parecer "estranho". Em 2011 teve apenas oito registos e em 2014 teve 10, o que, num nome mais tradicional é muito positivo, mas num nome menos habitual pode levar a essa perda de credibilidade num adulto que a mamã Inês deixou no ar, no seu comentário.
Pessoalmente, gosto muito. Mas já ouvi reacções menos apaixonadas. E num país tão tradicional em relação aos nomes, é normal que as opiniões não sejam as mais desejadas. Aos meus olhos de "não-mãe-não-grávida", a solução parece-me fácil - Concha pode ser um segundo nome mesmo, mesmo, mesmo adorável! - mas sei que isso nem sempre vai ao encontro do gosto dos pais que, se gostam do nome, querem dar-lhe destaque.
Seria fácil dizer que não há problema nenhum com o nome (que não há!) e que o que interessa é que os pais gostem do nome (e é!), mas tenho lido noutros sítios coisas tão absurdas sobre nomes tão banais que sou obrigada a reconhecer que as brincadeiras menos inofensivas acabam por ser as das crianças, nos recreios.
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Costumo ter alguma dificuldade em escrever textos sobre nomes modernos. Há sempre aquele aspeto de eu saber que grande parte desses nomes são tão antigos como os outros e de sentir necessidade de o frisar; além disso, é fácil cair na armadilha de dizer que é um nome que associamos a outra cultura, sem que isso pareça uma crítica negativa. Esforço-me para que não seja, mas reconheço que nem todas as pessoas referem "parece um nome brasileiro" como algo abonatório.
A esse respeito, convém lembrar que só porque nos familiarizamos com um nome através das novelas, não quer dizer que eles sejam propriedade exclusiva do Brasil (ex. Letícia) e, mesmo que fossem, não havia mal nenhum nisso. É verdade que ouvimos muitas referências a combinações mirabolantes, que comentamos com frequência o abuso gráfico mas, à parte disso, o conjunto de nomes mais populares no Brasil, e que são permitidos em Portugal, é tão interessante como o "nosso".