Perdoem-me a honestidade: as minhas idas à catequese nunca foram muito estimulantes. Mas lembro-me do dia em que a catequista contou a história de um senhor que criou um enorme barco, onde abrigou a sua família e um casal de animais de cada espécie do mundo, permitindo-lhes escapar com vida ao dilúvio. Achei logo que o Noé era um homem às direitas. Tanto, que passei a associar Noé a Noel - o Pai Natal. Erro crasso, eu sei, mas eu não passava de uma criança a morrer de aborrecimento, porque preferia mil vezes estar a ver o Clube Disney. Hoje arrependo-me da minha permanente desconcentração, porque toda a gente sabe que a Bíblia é uma fonte de inspiração preciosa para nomes.
Noah e Noé são exactamente o mesmo nome, na versão hebraica e latina. Significam "de larga vida" ou "descanso" - coisa que o Noé da Arca certamente não teve, com aquela bicharada toda concentrada no mesmo espaço. Em algumas culturas, Noah é também um nome feminino. Em Portugal, podemos utilizar Noa numa menina, como o famoso perfume da Cacharel.
Não sei exactamente quando é que Noah terá passado a ser autorizado em Portugal, mas na base de dados que tenho consultado regularmente e da qual já vos tenho falado, não existem registos desse nome até 1980. É por isso possível considerá-lo um nome moderno, apesar da sua antiguidade. Noé manteve-se sempre abaixo dos 20 registos entre 1920 e 1980 - o máximo que alcançou foi 17 registos, em 1939, de acordo com o site da SPIE, pelo que não podemos considerá-lo um nome popular. Normal, reconhecido por todos, mas raro.
Sinto-me um pouco repetitiva ao escrever que Noah ganhou visibilidade no nosso país graças à modelo Diana Pereira e ao marido, o piloto Tiago Monteiro, mas estou verdadeiramente convencida dessa ideia. O nome já era aprovado antes de eles o utilizarem e, para estar na lista, alguém deve ter pedido uma consulta, mas isso não o torna popular. Em Portugal, o Noé mais popular talvez seja o jornalista da RTP, Noé Monteiro.
Entendo o fascínio de algumas pessoas por Noah - o H final passa uma imagem de "nome do mundo", e a terminação em "oa" é delicada e única. Já o E final de Noé é estridente. É como ver dois bebés no berçário, um deles dormindo e o outro a chorar desalmadamente. O calminho seria o Noah, o agitado, o Noé. E pergunto: se estivessem a passear pela rua e ouvissem chamar por Noé e por Noah, pensariam que os dois tinham a mesma idade?
O que pensam destes dois nomes? Qual deles preferem? Não se esqueçam de votar!