Precisamos ou não de uma revolução nos nomes?

em 27/06/13


Há um par de dias, a Bárbara incitava-me a começar uma revolução entre os portugueses, para que estes deixassem de se conformar com a lei que determina quais os nomes que podem e não podem ser registados num bebé. Ainda que estivesse em condições de o fazer - e não estou porque, apesar do número de visitas diárias, eu não sou uma blogger mediática - tenho algumas reservas face ao resultado final de uma tão grande mudança de paradigma.

Por que sim...

Não sei se já alguma vez conversaram com alguém que não pôde registar o seu bebé com o nome que pretendia. Eu já e garanto-vos que compreendi bem o sentimento de injustiça revelado. Também já troquei impressões com uma mãe que pôde usar um nome anteriormente proibido e senti uma alegria imensa pela família. Por tudo isto, creio que a intromissão do Estado numa decisão tão pessoal é difícil de aceitar. Além disso, se o que se pretende é preservar o bem-estar da criança, nesse caso a proibição não se deveria estender a todos os bebés de nacionalidade portuguesa, independentemente da nacionalidade dos seus progenitores? E se o que se pretende preservar é a língua portuguesa, como se justifica a admissão de vocábulos que, claramente, não têm nada de portugueses? Até aqui, seria a favor da tal revolução. E neste momento sou a favor da aprovação de nomes estrangeiros, desde que correctamente grafados, seja em inglês, espanhol ou em russo. Continuo a preferir os nomes portugueses mas a partir do momento em que  Brian, Bruce e Katie, por exemplo, são permitidos, não vejo por que não devem ser aprovados muitos outros.

Por que "nim"... 

Contudo, pergunto-me se a tão desejada liberdade de escolha nos pode conduzir a situações de exclusão. Sei que nem toda a gente partilha desta minha perspectiva mas infelizmente acredito que o nome próprio é factor de discriminação, que vai muito para além do bom/mau gosto.
Além do mais, a sociedade portuguesa, que critica ferozmente centenas de nomes próprios reconhecidos como tal, poderá ser gentil face a escolhas mais ousadas? Eu sei que não tenho nada a ver com o nome que os outros escolhem para os seus filhos mas também sei que os filhos não têm voto na matéria em relação ao seu próprio nome e que, no final de contas, são eles que acabam por carregá-lo ao longo da vida e são eles o alvo do desprezo alheio...

Na vossa opinião, deveria desvalorizar mais os "contra", face a "prós" tão poderosos?

18 comentários:

  1. Não deviam deixar nomes como "North" mas ser mais abertos a nomes muito usados em todo mundo, por exemplo Kathleen...ou deixar Cateline. Stefani podia ser alternativa de Stephanie...pelo menos há uma opção.

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  2. Ainda não consigo responder se sou a favor ou contra, mas realmente não percebo como é q a regra não se estende a todos os bebes de nacionalidade portuguesa.
    Tenho receio que se retire a proibição, o que acontece no Brasil assusta-me um pouco, nomes como Khamilla, Marysa, Madeinusa etc... Mas depois temos a pequena Lyonce Viiktórya.
    Eu gosto de preservar a nossa grafia, mas confesso que há nomes que ao se "aportuguesarem" perdem totalmente a piada, ou então os acentos agudos que considero poluição visual.(ex: Olívia e Emília) Depois também há o problema da pronuncia... mas nos outros países penso que também eles têm de repetir como se escreve e pronuncia o seu nome vezes sem conta, por isso nós também não morríamos.
    Talvez com tanto nome diferente a nossa mente se abrisse um pouco para novos e antigos nomes. Mas e o receio de surgir um bebe "Demónio" ou uma bebe "Cobra"? (nos casos mais extremos lol) O problema é que nem toda a gente tem bom senso.

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  3. Concordo com a Anna, acho injusto que a lei não cubra todos os bebés portugueses.
    E o maior receio da total permissão é de passarmos a ter Mariia's e Jusé's...

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  4. Bem... como existem normativos para todas as restantes questões(sociais, profissionais,...) é fundamental que haja normativos para a atribuição de um nome próprio.

    Obviamente, uns estarão mais agradados do que outros com o conjunto de nomes incluídos na referida lista.

    Contudo, acredito que a mesma não será eterna, ou seja, que irá refletir (cedo ou tarde) as tendências e a evolução da língua.

    Eu, pessoalmente, gosto mais dos denominados nomes tipicamente portugueses. Se somos produto de uma educação, de uma cultura, de tradições, de uma história comum... Não somos também produto de uma língua?

    Por esse motivo, também, entendo que seja dada a possibilidade aos casais nos quais um tem outra nacionalidade a possibilidade de transmitir essa herança cultural e social que começa com uma coisa tão simples como com o Nome Próprio.

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  5. Eu sou de opinião que os pais devem ter liberdade de escolher o nome que entendam para o seu filho(a). Isso já acontece em inúmeros países. Exceptuando talvez nomes caluniosos, calão, etc. As liberdades devem ser garantidas. Agora se me perguntam se eu gosto dos nomes "estrangeiros" ou de grafia "estrangeirada" sou sincera: destesto; acho muito, muito feio, exceptuando-se o caso de um ou dos dois pais serem estrangeiros. Mas a liberdade não tem a ver com gostos; assim como eu não gosto, outros podem gostar.

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  6. Aposto que Martim passava a Martin em metade dos registos...

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  7. Concordo com a Brites. Liberdade x Gosto... sempre a liberdade. Quanto aos casos de nomes que causam algum constragimento, há leis que permitem a mudança de nome. Aí o Estado pode intervir e garantir os direitos a quem não gosta do seu próprio nome.

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  8. Cá estou eu... É claro que não defendo a liberalização dos nomes para que venha algum mentecapto chamar bftmudbiyevh ao filho. No entanto, acho uma clara restrição da minha situação perante outros pais numa situação em quase tudo semelhante, exceto o antepassado estrangeiro. O que há mais na lista de nomes admitidos são nomes garantidos para dar uma passagem pela escola dificil. É certo que um Gurmecindo terá mais dificuldade que um João. E acontecem-me situações em que tenho que soletrar o nome da minha filha pois as gerações mais novas não conhecem o nome Guiomar. O que me afeta é restringirem-me nos nomes que posso adotar. Quando, devido à elevada emigração que tivemos, o que mais vai haver é portugueses com nomes diferentes.

    Bárbara

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  9. É uma situação complicada... em geral sou a favor da liberalização, por outro lado acho que deve haver restrições...

    O problema é o que já foi aqui referido, ninguém percebe quais os os requisitos para um nome ser ou não admitido.

    Outra coisa que acho é que mesmo que todos os nomes fossem liberalizados, os portugueses na sua generalidade escolheriam nomes consensuais. Logo não havia grandes problemas, ou então por haver tão poucas pessoas com nomes esquisitos é que ainda haveria mais problemas...

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  10. Sara, gostei muito do seu comentário porque me relembrou que não estão só em jogo os direitos da criança, como os dos pais!

    Carolina, a mudança de nome por vontade própria só pode acontecer aos 18 anos!


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  11. Como mãe de duas crianças com nomes não permitidos em Portugal, digo que acho bem que exista essa lista e que devia haver controle mesmo nos nomes que se dão às crianças com pais de outras nacionalidades.
    As minhas filhas nasceram nos EUA, o meu marido é Holandês, têm nomes estrangeiros , e agora que estamos em Portugal é um tormento a pronúncia dos nomes! Hoje digo que devíamos ter pensado melhor, embore eu adore os nomes!
    Chamam-se Sloane - pronuncia-se "Slon", mas aqui dizem Slóáne.
    A outra é Yanthe, e ainda é pior, diz-se "Ai-an-di" mas aqui é sempre a Yánde ou Yánte! Não sei como é que há pais que querem dar nomes estrangeiros! Se fosse hoje teria pensado duas vezes!

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  12. Uma coisa é impedirem Madeinusa ou Olá Tudo Bem da Silva, ou até North West (ou Norte Oeste). Outra coisa é o absurdo de proibirem nomes em versão mais antiga, como Lourdes, Luiz, Diniz, Matheus, Mathias, Sophia, e nomes onde os pais decidam trocar uma ou outra letra para algo menos convencional (qual o mal de Karolina, Wanda, Cármem?). Também acho que tudo o que soar estrangeiro mas se provar ser um nome estabelecido numa língua, qualquer que ela seja, deveria ser aceite para todos.

    Mas pronto, cada um tem a sua opinião. A mim não me afecta nada porque tenho dupla-nacionalidade. Façam as vossas batalhas, porque isto é falta de direitos cívicos.

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  13. Oi, Filipa!
    No Brasil, até onde sei (não sou formada em direito, mas já li algo a respeito), com 18 anos a pessoa pode ir até o cartório e solicitar a mudança de nome, em um processo bem simples. Antes dos 18 anos, contudo, pode recorrer à Justiça se o nome causar-lhe constrangimento (ou em outros casos como adoção ou mudança de sexo). O curioso é que existem processos de mudança de nome não só em razão do nome ser estranho, mas também por ser muito comum!

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  14. Anónimo com as filhas... há nomes estrangeiros e nomes estrangeiros...

    A maioria não tem problemas com John, Peter, Kevin, Michael, etc. porque se conhecem, ouvem-se na tv, em filmes, na net.

    Os exemplos que deu são extremos. É óbvio que a grande maioria das pessoas de Portugal não vai pronunciar correctamente o nome das suas filhas porque são invulgares. Sloane e Yanthe são nomes muito particulares, e quanto ao 2º até me acredito que haja gente anglófona que não o saiba pronunciar. Mas tudo na vida se aprende! "Não é x, é y". Da próxima vez a pessoa faz y! Não há drama, a não ser que a pessoa seja burra.

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  15. Sou contra a liberalização porque infelizmente bom senso é algo que não abrange toda a população.
    Eventualmente acabaremos como os Estados Unidos e Brasil com nomes completamente absurdos.

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  16. Olá! Tenho um nome admitido - e já o era quando me registaram hà 26 anos atrás - Miriam. Posso dizer que passei a infância e adolescência TODA a ter de soletrar o nome. Além de que levei com muita gente a chamar-me "Miriã", "Mirião" e "Miria", incluindo gente da minha família. Consequentemente, também tive vários colegas a gozar comigo - já se sabe, quando se é criança, o que se estranha, muitas vezes goza-se... :S No entanto, aqui estou ( sem gostar muito do nome, mas eu não gosto de nomes com muitos iis), de boa saúde e ao menos sei que o nome fica facilmente no ouvido e, muitas vezes, basta dizê-lo e lembram-se logo de mim. Portanto, acho que as razões do não acabam por ser "problemas" que se resolvem com o tempo - se numa dada altura o nome é difícil de pronunciar, de escrever ou causa estranheza, à medida que forem nascendo mais crianças, este vai-se integrando na sociedade (hoje em dia apenas me perguntam se leva M no fim e já não tenho de estar com o M de Maria, I de Ivo...). Quando aos direitos das crianças - e nisto sou fundamentalista, o direito ao nome é das crianças e não dos pais - eles ficam salvaguardados se não se permitirem nomes vexatórios ou que não tenham carácter distintivo, como nomes de objectos, países, cidades, etc. Sinceramente, acho que um Habacuque será muito mais gozado do que um Leano ou uma Agostília do que uma Reana ( e não gosto de nenhum dos quatro, saliente-se). Assim, o argumento de "se a sociedade portuguesa critica ferozmente centenas de nomes próprios reconhecidos como tal, poderá ser gentil face a escolhas mais ousadas?" responde-se a si próprio - ora, se com a lista dos admitidos não se consegue evitar a exclusão, para quê a lista? Assim, sou completamente contra haver uma lista, têm é de existir algumas regras, mas liberdade e originalidade acima de tudo :)

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  17. Olha,a questão é complexa: um nome deve expressar no filho ou na filha o que os pais sentem no mais íntimo quando escolhem. Caso o filho não queira continuar expressando isso por incômodos que sinta em relação a isso, deve conversar com os pais sobre o assunto e providenciarem a troca do nome na justiça. Não cabe ao Estado tentar solucionar um suposto problema hipotético que pode ou não ocorrer. Notei por parte dos que são contra a liberdade o intuito xenofóbico de discriminar o estrangeiro. Não é esse o caminho. Um nome pode ser absurdo para uns e maravilhoso para outros. Não se deve invadir o direito de escolha dessa maneira.

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  18. Olha,a questão é complexa: um nome deve expressar no filho ou na filha o que os pais sentem no mais íntimo quando escolhem. Caso o filho não queira continuar expressando isso por incômodos que sinta em relação a isso, deve conversar com os pais sobre o assunto e providenciarem a troca do nome na justiça. Não cabe ao Estado tentar solucionar um suposto problema hipotético que pode ou não ocorrer. Notei por parte dos que são contra a liberdade o intuito xenofóbico de discriminar o estrangeiro. Não é esse o caminho. Um nome pode ser absurdo para uns e maravilhoso para outros. Não se deve invadir o direito de escolha dessa maneira.

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